sábado, 25 de junho de 2011

Pai, você é importante para mim| Formação

 

Pai, você é importante para mim

Refletiremos sobre a importância do referencial masculino de autoridade e afeto na educação dos filhos, buscando valorizar e aprofundar a vivência do papel do pai no contexto familiar.

A figura do pai, apesar de manifestar-se, atualmente, mais afetiva, deve ser responsável por colocar limites e também impulsionar os filhos a enfrentarem os desafios da vida.

A mãe tem uma tendência natural a proteger demais a prole, transmitindo-lhe valores como acolhimento, cuidado e proteção. O pai estimula a independência dos filhos e corta o excesso de proteção da mãe. Seu papel é muito importante na construção da autonomia da criança. A diferença é que, antes, a autoridade paterna era acompanhada pelo medo que as crianças sentiam frente a uma figura tão severa e distante. Hoje, esse processo ocorre de maneira mais saudável, já que os papais não se fazem entender apenas no grito. O que não pode acontecer é o pai “amolecer” demais e se tornar muito permissivo.

Quando a permissividade acontece, as crianças acabam se tornando desobedientes, autoritárias e inseguras. Por isso, pai, esteja atento! Ser paciente, carinhoso e atencioso não significa abrir mão da disciplina. Dar limites é, também, uma importante demonstração de amor, pois sem esses limites os filhos ficam desorientados.

A participação do pai é importante em muitos outros aspectos. Ele serve como modelo de comportamento para os meninos e também permite que as meninas conheçam e compreendam o universo masculino.

A figura paterna é um importante referencial de conduta, fortalecendo, nos filhos, os valores morais. Práticos, objetivos e racionais, os homens podem mostrar às crianças uma nova forma de encarar a vida, diferente do ponto de vista feminino. Além dessa ótica mais racional e objetiva diante da vida, o pai, com mais proximidade afetiva, deve proporcionar um maior suporte emocional para os filhos. Um pai participativo e atencioso representa mais autoestima, confiança, segurança e equilíbrio na vida do filho. Não se deve pensar, entretanto, que uma criança que não pode conviver com o pai, por qualquer que seja o motivo, será necessariamente infeliz ou problemática.

E na ausência do pai?

Na ausência da figura paterna, esta pode ser amenizada por um tio, um avô ou outro adulto do sexo masculino que participe, ativamente, da vida da criança. É importante que exista esse referencial masculino com seus importantes valores para o desenvolvimento saudável da criança.

E as diferenças, podem atrapalhar?

É normal que surjam dificuldades, conflitos de ideias, costumes e valores entre o casal. Porém, é necessário o diálogo para que sejam estabelecidos critérios comuns na educação dos filhos a fim de evitar confusão e insegurança na cabecinha deles, bem como a manipulação dos pais em vista de conseguirem satisfazer suas vontades. As diferenças, quando bem administradas, tornam-se instrumentos que possibilitam a busca do diálogo e da análise das situações, enriquecida de pontos de vista diferentes, o que aumenta a margem de acertos na maneira de educar os filhos.

No diálogo, reafirmamos nossos valores, questionamos nossas inconsistências e redirecionamos o caminho na unidade.

Algumas mães, mesmo inconscientemente, não querem “perder” para o pai o amor e admiração do filho, alimentando condutas competitivas. Outras não acreditam que um homem possa assumir essa responsabilidade e desqualificam qualquer tipo de ajuda que o pai queira dar aos filhos ou enfraquecem sua autoridade paterna no lar, criticando-o negativamente na frente das crianças, por exemplo. Com isso, o pai pode tornar-se uma figura apagada e incapaz de exercer influência importante na vida do filho.

Àquelas que educam seus filhos sem uma efetiva participação do pai, uma palavra de ânimo e confiança, pois os filhos são sempre uma bênção de Deus. E com este Pai do Céu, podemos sempre contar diante dos desafios da vida. Poder contar também com aquela figura familiar – do tio, do avô, etc –, que seja referência masculina de amor, presença, retidão e firmeza, torna-se uma importante ajuda para o desenvolvimento integral do seu filho.

Ajudando o pai a assumir o seu papel.

É importante que a figura masculina seja fortalecida na sua missão de educar. A mãe pode ajudar muito nesse processo, sinalizando ao pai os aspectos importantes da sua participação no contexto familiar, pois a família toda só tem a ganhar com essa participação – ainda que existam falhas –! Afinal, ninguém é perfeito.

É muito pertinente dizer que a mãe, diante da tarefa de educar, pode somar com as atitudes importantes e favoráveis que o pai tenha, fortalecendo a imagem dele para o filho naquilo que é bom e saudável. Suas fragilidades e deficiências não precisam ser negadas, porém, é importante que não sejam sempre enfatizadas. O fato é que existe uma contribuição real e importante da autoridade masculina. É uma outra leitura no processo de educação do filho, a qual enriquecerá seu desenvolvimento, uma vez que os dois querem o melhor para a criança.

A importância do “desmame”.

Içami Tiba, psiquiatra, especialista em relações familiares, refere que não se pode esquecer o que ele denomina de “desmame do ser humano”. “Desmame”,que nunca acontece naturalmente, já que o vínculo afetivo sempre permanece por influência das próprias mães, que confundem afeto com assistência material, em“fazer coisas”, para agradar seus filhos e lhes oferecer proteção incondicional, não importando em que faixa etária estejam.

Conforme Içami Tiba, isso poderia ser evitado se, desde a infância, os filhos fossem educados de forma que sempre se tornassem responsáveis por seus atos, especialmente na interação fora de casa, uma vez que se torna cada dia mais comum os pais acobertarem os erros dos filhos a fim de que não sejam punidos socialmente.

O psiquiatra utiliza o termo “pães” para explicitar o que vem acontecendo com a figura paterna na atualidade. Para o autor, esses “pães” nada mais são que aqueles pais omissos, ausentes, o que muito tem favorecido para o avanço do comando dos lares pelas mães. Os motivos para esse distanciamento variam muito, passando, especialmente, pelo alcoolismo, consumo de drogas, separação ou abandono do lar, além do aumento de transgressões e atos ilegais. Nessas situações, nada mais resta às mães a não ser buscar a autossuperação, pois, em situações de crise, são elas que, apesar dos maiores desafios, perseveram ao lado dos filhos. O autor faz questão ainda de frisar que “os filhos respeitam a mãe que se respeita e que, jamais, acatarão ordens de quem não se impõe.”

Tiba afirma que, “só quando as mulheres reunirem suas forças, ajudando os pais a assumirem seu papel, expressando sua importância e responsabilidades, e fazendo com que os filhos assumam as consequências de seus atos, é que a família poderá cumprir autenticamente sua missão de principal núcleo de formação sociocultural”.

O pai é o primeiro “outro”.

Estudos científicos mostram que o papel do pai começa desde cedo. A sua participação e o seu envolvimento devem ter início no momento mais precoce possível. Sabe-se, inclusive, que, ao participarem do parto, os pais se sentem extremamente úteis.

Apesar do papel materno, nos primeiros anos de vida, prevalecer sobre o papel do pai, sabe-se que a importância da figura paternal é altamente notória no desenvolvimento cognitivo, emocional e social da criança. Por outro lado, a relação estabelecida com os filhos ajuda no desenvolvimento pessoal do homem enquanto pessoa e pai.

Vários são os especialistas que defendem que a quebra do vínculo afetivo com o pai pode gerar sentimentos de abandono e de rejeição por parte da criança, com repercussão nas relações por ela desenvolvidas no futuro, comprometendo a formação de novos vínculos. Guy Coreant, psicólogo, afirma que “o pai é o primeiro outro’ que a criança encontra fora do ventre da mãe”, sendo essa a presença que vai lhe servir como suporte e apoio, possibilitando o seu desprendimento da mãe e a passagem do mundo da família para o mundo da sociedade: “A figura paterna é a que permite à criança entrar num horizonte de novas possibilidades”.

A construção de relações afetivas, duradouras e saudáveis, seja com o pai ou com a mãe, e, especialmente, com os dois juntos, só traz vantagens para o desenvolvimento da criança e do adolescente, fortalecendo o “tônus” emocional para superarem desafios, persistirem nos seus objetivos e conquistarem seu espaço na sociedade.

Laura Martins
Assistente social, psicopedagoga e missionária da Comunidade Católica Shalom